Há alguns meses, a empreendedora paulista Raquel Cruz, de 41 anos, dona da Feitiços Aromáticos, submeteu sua empresa de cosméticos a uma reforma. A caminho de faturar 2 milhões de reais em 2011 — 30% mais do que em 2010 —, a empresa estava ficando pequena para dar conta da crescente produção.
Nos banheiros, a descarga convencional foi substituída por um modelo que gasta menos água, e as torneiras antigas, por modelos de pressão e que desligam a água automaticamente. No quebra-quebra da reforma da Feitiços Aromáticos, aumentou-se o espaço antes reservado às janelas para entrar mais sol, e as paredes e o teto foram pintados de branco a fim de refletir melhor a luz. No layout, algumas janelas foram reposicionadas.
Não se tratava de um ensinamento de Feng Shui ou de um desenho que ela tivesse visto numa revista de decoração. "Logo nos primeiros meses após a reforma constatei uma economia de 40% na conta de luz e uma redução de 30% nos gastos com água", afirma Raquel.
Preocupações como as de Raquel tornaram-se mais frequentes entre donos de pequenas e médias empresas — e, em pouco tempo, estão deixando de ser uma total exceção para começar a fazer parte das regras, pelo menos de quem está interessado em construir uma empresa capaz de competir por seu espaço no mercado.
"No nosso negócio, a preocupação com o ambiente está deixando de ser uma opção para virar quase uma premissa", diz Raquel. É o que já fazem grandes marcas, como O Boticário e Natura, que incluem o cuidado com o meio ambiente como um de seus principais valores.
Um levantamento do Green Building Council Brasil, responsável pela certificação ecológica de construções, mostra que, com um investimento de 2% a 7% a mais no valor inicial de uma obra, é possível colocar em prática medidas que podem reduzir até 30% o consumo de energia — a economia pode vir da instalação de equipamentos que acendem as luzes apenas quando os sensores detectam a presença de alguém ou de placas fotovoltaicas que transformam a luz do sol em eletricidade.
Com o mesmo investimento, diz o relatório, dá para diminuir o consumo de água entre 30% e 50% — com a instalação de materiais hidráulicos que fazem o consumo de água funcionar no modo econômico, como torneiras com vazão controlada e receptores de água da chuva.
Mesmo quem não pretende fazer reformas ou mexer no layout da empresa tão cedo pode colocar a criatividade para funcionar e ir além de cortar copinhos plásticos ou limitar a impressão de papéis. Veja o caso do paulista Rubens Augusto Junior, de 53 anos, dono da rede Patroni Pizzas, que deve fechar 2011 com um faturamento de 87 milhões de reais em suas 97 unidades. Há quatro anos, quando buscava uma alternativa para substituir a lenha que alimentava os fornos das pizzarias, Augusto Junior não encontrou opções a um bom custo. Então, ele se reuniu com o seu principal fornecedor de lenha e pediu a ele para fabricar um briquete feito com pó de serra compactado, que passou a ser fornecido a todas as pizzarias da rede. "A intenção foi aproveitar o que já sobrava da manipulação da madeira e não ter de cortar mais árvores", afirma Augusto Junior. A troca, diz ele, compensa. "O briquete custa quase 20% mais que a lenha, mas mantém os fornos quentes por mais tempo", diz.
Para os profissionais cujo trabalho é ajudar outras empresas a desenvolver os próprios projetos de sustentabilidade, colocar a mão no bolso é só uma parte da história. "O passo seguinte é engajar os funcionários na causa da empresa", afirma o consultor Luiz Henrique Ferreira, sócio da Inovatech Engenharia, de São Paulo, consultoria que desenvolve programas de sustentabilidade para outras empresas.
Claro que isso exige, primeiro, que o empreendedor tenha realmente uma causa. Eduardo Pereira, de 49 anos, encontrou uma para sua empresa, a prestadora de serviços de TI carioca Elumini, que obteve receitas de 32 milhões de reais em 2011, cerca de 10% mais que no ano anterior.
Com 250 funcionários que se ocupam de implantar e fazer atualizações em softwares contratados pelos clientes, a Elumini convivia com um problema decorrente da rápida obsolescência dos equipamentos de informática. Volta e meia era preciso trocar alguns componentes dos computadores — processadores, placas de vídeo, memórias, teclados, mouses, monitores.
"Independentemente do motivo, é quase inevitável que esses ajustes gerem uma quantidade razoável daquilo que as pessoas chamam de lixo tecnológico", diz Pereira. "Achávamos que poderíamos precisar de uma peça dessas no futuro, então não jogávamos fora."
É por isso que na Elumini existe um espaço específico para guardar mouses, impressoras, monitores e todo tipo de periférico. Quando esse espaço ficou abarrotado, Pereira precisou tomar uma decisão. Uma das opções para garantir que o destino do refugo fosse correto do ponto de vista ambiental seria contratar uma empresa de reciclagem.
Um dia, Pereira ficou olhando um bocado de tempo para tudo aquilo — seria mesmo lixo? "Muitas daquelas peças ainda funcionavam e poderiam ser aproveitadas em computadores menos potentes", diz ele. Por isso, ele chamou os funcionários para separar o que poderia ser usado como componente para fazer computadores de sucata.
O mutirão resultou, neste ano, na montagem de 16 computadores. A maior parte das máquinas foi encaminhada a uma ONG de inclusão digital, que as redirecionou a comunidades carentes. "Estou muito satisfeito com esse programa", diz Pereira.
Fonte: Exame
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